sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ilustração e cinco sentidos - unidade didática assistida




A presente unidade didática, concebida e dinamizada por Elsa e Célia, foi desenvolvida em duas sessões de três horas cada, a primeira de realização individual e a segunda em grupo. Na primeira sessão foram realizados dois exercícios de expressão gráfica, acompanhados por memórias descritivas dos mesmo, no final houve um momento de diálogo e reflexão no qual cada participante falou sobre o que fez, o que sentiu e pensou. Na segunda sessão foi realizado uma "ilusração" por todos os participantes através da colagem de fragmentos de trabalhos realizados na sessão anterior. Em traços gerais, penso que a unidade didática, pretendeu fomentar a relação entre o registo gráfico e os diferentes sentidos, para além da visão, estimulando-se a audição, o olfato, o paladar e o tato através de diferentes produtos possibilitando que, através da expressão livre todos os sentidos contribuíssem como fontes de sugestão e matéria para a criação gráfica, baseada nas experiências sensoriais. A unidade didática estimulou também as relações interpessoais entre os participantes, através de exercícios que envolviam a intervenção sobre trabalhos de outras pessoas e através da realização em grupo de um trabalho a partir dos trabalhos realizados anteriormente. O diálogo e reflexão no final da primeira sessão proporcionou um importante momento de escuta e partilha, bem conduzido pela Elsa que através do questionamento contribuía para o aprofundar da reflexão. 

A primeira sessão iniciou-se com a apresentação da unidade didática, sendo expostos oralmente pelas duas dinamizadoras, com recurso a diapositivos, os objetivos gerais e específicos da unidade bem como os tópicos de reflexão que constituíam a avaliação e as atividades a realizar. Após a introdução os participantes foram vendados e convidados a registar o que o som, odores e a experiência tátil sugeriam. A inibição da utilização da visão possibilitou uma maior atenção aos outros sentidos, através dos quais percepcionamos o mundo. Estando vendada, não me pareceu importante desenhar figuras ou formas específicas, pelo que procurei percorrer a folha, percepcionando os seu limites, ao "sabor" principalmente da música. 





No segundo exercício, já sem vendas nos olhos, os participantes foram convidados a intervir livremente sobre o trabalho de outro participante, recorrente para isso aos variadíssimos materiais disponibilizados, proporcionando-se dessa forma um diálogo plástico entre os participantes, que o trabalho final matrializou.






Após a expressão plástica, proporcionou-se, como referido anteriormente, um interessante e necessário momento de diálogo e reflexão, que permitiu perceber que significado cada um tinha dado à sua experiência sensorial e expressiva e se correspondeu às expetativas e objetivos da unidade didática. Como tive oportunidade de partilhar nesse momento de diálogo, parece-me que os exercícios foram essencialmente de estimulação da criatividade, da imaginação e da expressão livre a partir de experiências sensoriais relativas a estímulos variados que na minha opinião não corresponderam necessariamente a um tema específico, pelo que a relação com a ilustração, que implicaria que o trabalho plástico acompanhasse um referente comunicado num meio que não o utilizado. Parece-me que a atividade não precisa dessa relação com a ilustração, funcionando bem como estimuladora de uma percepção sensorial que integra todos os sentidos. O estimular das relações interpessoais, tanto a um nível plástico como ao nível da comunicação oral, parece-me também importante, principalmente porque verificou-se uma vontade descontraída de compreender e clarificar percepções e posições pessoais, procurando-se compreender o outro.   




Na segunda e última sessão foi realizada em conjunto uma colagem a partir dos trabalhos realizados, o que implicou a destruição dos trabalhos originais, a sua fragmentação e integração numa nova unidade feita de vários fragmentos. Esse movimento de destruição e de transformação parece-me bastante importante e pedagógico, no sentido em que contribui para um processo criativo fluído e experimental sem a preocupação à partida com o resultado final, abrindo espaço ao inesperado e à descoberta, tão importante na criação artística, tanto nas artes plásticas como noutras áreas artísticas como por exemplo o design, a arquitetura, o cinema ou a animação. 



Relativamente aos modelos ou paradigmas da educação artística definidos por Efland, a unidade didática enquadra-se claramente no paradigma expressivo-psicanalítico, modelo que relaciona a estética expressionista, que entende a arte como produto da imaginação do artista, e uma pedagogia centrada no indivíduo segundo a qual o conhecimento é uma construção individual. Em ambos é valorizado o papel da imaginação na aprendizagem, na formulação de novas construções, entendimentos  e perspectivas, enquanto processos mentais para os quais são determinantes as emoções e sentimentos. Segundo este modelo a arte possibilita o desenvolvimento pessoal através da expressão libertadora, por oposição à repressão e condicionalismos sociais, promovendo o auto-conhecimento e a integração pessoal, aí residem as suas qualidades terapêuticas. Penso que numa perspetiva atual da educação artística, é importante a integração de aspetos do paradigma expressivo-psicanalítico, desde que não configurem um modelo de abordagem exclusivo, através da integração de actividades de expressão livre, como a aqui relatada, no desenvolvimento curricular das disciplinas artísticas dos diferentes anos de ensino, ou mesmo em paralelo às disciplinas escolares. Neste sentido gostaria de referir o exemplo do Closlieu concebido por Arno Stern, um espaço dedicado à livre expressão através da pintura, onde qualquer pessoa pode pintar de forma descontraída, sem a intenção de produzir uma obra artística, apenas pelo prazer da ação em si. Penso que seria interessante e bastante benéfico que houvesse nas escolas um espaço assim, abertos a todos, aos alunos, pais, auxiliares, professores, administrativos, a toda a população escolar. O que não está ligado especificamente à educação artística, mas antes à arte terapia, que como próprio Stern defendia, deve vir antes da doença. 



Imagem de um Closlieu.

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