... uma pequena multitude.
Prática profissional supervisionada, dia 01, 12 de Outubro de 2012.
No meu segundo dia de visita à Escola Secundária Artística António Arroio estive com a turma com a qual irei desenvolver uma unidade didáctica no âmbito da disciplina de Desenho A. É uma turma do 12º ano do curso de Cerâmica composta por 28 alunos.
Cheguei um pouco antes do início da aula. A Fernanda aproveitou para me mostrar e comentar os trabalhos de uma aluna do 10º ano realizados no ano letivo anterior. Os alunos foram chegando, conversando e ocupando calmamente os seus lugares.
Numa primeira abordagem procurei observar os alunos relativamente à forma como estão na sala de aula: que lugares ocupam na sala e que atitudes demonstram relativamente às atividades, colegas e professora.
Enquanto me movimentava pela sala, procurando perceber o que os alunos estavam a fazer e interagir com eles, apercebi-me das diferentes formas como cada um se relaciona com o desenho, na situação específica do exercício que estavam a desenvolver, um exercício de observação e representação. Apesar de todos estarem a desenhar o mesmo referente e com o mesmo objetivo de representação realista, os desenhos apresentavam características diferentes. A própria forma como se relacionavam com os materiais, como pegavam no lápis, como se posicionavam em relação à folha, como a ocupavam, etc. A motivação e empenho que demonstravam em relação ao exercício também variava, o que era também visível na qualidade do trabalho que estava a ser realizado. Recordo um aluno, um aluno da última fila, com 20 anos, cujo desenho da garrafa apresentava uma variação muito acentuadas relativamente à intencionalidade das linhas, à qualidade representativa. Tentei perceber o porquê dessa variação, falando com o aluno relativamente a essa variação. Do diálogo com o aluno, percebi que a parte do desenho melhor conseguida tinha sido realizada no dia anterior e a parte menos conseguida na presente aula. Questionei o aluno relativamente às razões dessa diferença, tentando aos poucos perceber como é que o aluno se relacionava com o desenho, se costumava desenhar fora das aulas, se gostava de desenhar. Do decorrer do diálogo percebi que o aluno estava bastante desmotivado em relação, não só ao exercício que estava a desenvolver, mas à escola em geral. Reparei no lápis que usava para desenhar, muito curto já. A Fernanda esclareceu-me depois da aula que se tratava de um aluno "complicado" que teria reprovado três vezes e que parecia bastante desinteressado em relação à escola. A variação na qualidade geral dos trabalhos realizados pelos alunos, num mesmo aluno e entre alunos, pode ter várias razões, entre elas a motivação e o envolvimento do aluno nas actividades propostas. Julgo que um dos papeis do professor é perceber essas razões e tentar ajudar os alunos a ultrapassa-las, o que exige um acompanhamento personalizado dos alunos e uma interação que tenha como base a confiança e não o julgamento. A atenção que o professor presta ao aluno e ao seu trabalho é, muitas vezes, por si só um fator mobilizador da motivação e empenho dos alunos, favorecendo a sua auto-estima e auto-confiança. Fator que pode fazer toda a diferença, principalmente no âmbito do ensino artístico, pois este que envolve aspetos mais pessoais dos alunos tendo um impacto bastante forte na construção do auto-conceito do aluno.
As imagens que se seguem procuram ilustrar a multiplicidade observada na turma perante um exercício de representação mais objetiva e descritiva e com um referente comum a todos.
Prática profissional supervisionada, 12 de Outubro de 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário