Apresentação do exercício:
Exercício proposto na disciplina de Materiais de Registo e Técnicas de Expressão do 11º do curso Geral de Artes.
Exercício de representação e recriação formal a partir de um objecto escolhido pelos alunos.
O exercício compreendia 4 fases ou abordagens:
. Observação e análise do objecto o que envolve uma relação mais objectiva com este tentando-se discernir as suas características formais: relações de proporção, textura, cor, volumes, peso, etc.
. Registo gráfico:
- Contorno.
- Claro - escuro: sombra própria, sombra produzida, esbatido, penumbra.
- Textura.
. Uso da cor utilizando de vários meios riscadores.
. Recriação da forma antes estudada:
- Simplificação (síntese da forma).
- Acentuação (exagero de um ou vários aspectos formais).
- Deformação (transformação da forma).
- Nivelamento (?).
Relato do Exercício:
O exercício era composto por várias fases, a primeira corresponde à escolha do objecto. Escolha que não correspondia a qualquer critério predefinido mas antes ao interesse subjectivo do aluno. O objecto que escolhi foi uma faca para cortar papel esculpida em marfim, objecto que pertencia aos meus pais e que fora trazido de Angola e com o qual me relacionara desde criança pelo seu aspecto físico, a cabeça esculpida numa das extremidades, o material macio e pela sua função recorrendo a ele diversas vezes e até de forma propositada para cortar papel.
Uma segunda fase correspondia à observação e representação objectiva do objecto. Reuno observação e representação pois julgo que não são acções que se complementam, pois a representação pressupõe observação atenta do objecto. Esta fase era composta por momentos distintos: um primeiro desenho mais simples e cingindo-se ao contorno a lápis de grafite; um segundo desenho, monocromático onde se pretendia uma representação das variações lumínicas, sendo representadas as várias sombras do objecto incluindo a sombra projectada sobre a superfície onde este estava pousado; no terceiro desenho procurava-se utilizando a cor através de vários materiais à escolha representar as tonalidades cromáticas do objecto, tendo para tal escolhido os lápis de cor e pastel seco para a luz. Realizei mais dois desenhos, num utilizei a tinta da china recorrendo à aguada para reproduzir as varias lumínicas e no outro usei pastel seco e tinta da china.
Para além dos aspectos relacionados mais com a capacidade de representação também se pretendia explorar e desenvolver o enquadramento do desenho na folha e aspectos ligados à composição, à posição que este ocupava na folha.
O facto de aparecerem vários desenhos numa só folha talvez se prenda com um factor económico, o poupar folhas, o que acaba por ter um resultado interessante pois são reunidas numa só folha diferentes abordagens pictóricas.
Representação
A terceira fase corresponde a uma recriação formal do objecto tendo em conta os parâmetros definidos pela professora: simplificação (síntese da forma), acentuação (exagero de um ou vários aspectos formais), deformação (transformação da forma) e Nivelamento (simplificação da forma). Não me recordo se esses parâmetros teriam de corresponder necessariamente a desenhos distintos ou não, mas pelo trabalho que fiz julgo ter procurado corresponder a esses parâmetros num só um desenho.
Recriação
Quanto às competências desenvolvidas, para além das já referidas (observação e capacidade de representação objectiva) julgo que o exercício procurou desenvolver a consciência de que um objecto pode ser abordado pictoricamente de formas diferentes que implicam processos diferentes, por exemplo o desenho de contorno implica a capacidade de síntese e abstracção, fazendo-se corresponder os limites da forma e os volumes a linhas imaginadas.
Também se desenvolve o conhecimento e o consequente domínio de vários materiais e a percepção dos seus limites e potencialidades. São também desenvolvidas competências relacionadas com a criatividade e imaginação em conjunto com a noção que estas faculdades podem ser usadas de diferentes formas, ora para acentuar, simplificar ou transformar, podendo essas formas existir simultaneamente.
Quanto à avaliação mão me recordo em que moldes foi feita, a única indicação escrita que tenho da professora é a sua assinatura no verso de cada folha e no último desenho a palavra incompleto.
O último desenho é o que corresponde a uma abordagem mais individual do desenho e consigo perceber algumas semelhanças com algumas figuras que desenhava na altura quer no que diz respeito à forma quer no que diz respeito às cores e aos materiais utilizados: figuras com formas muito sintetizadas, carecas e de expressão dura.
Dois exemplos de trabalhos pessoais e um escolar feitos no mesmo ano.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO:
Tendo em conta os quatro modelos de ensino artístico definidos por Arthur Efland (Efland, 1995, pp. 25-40), modelos esses que combinam movimentos pedagógicas e movimentos artísticos mais proeminentes e paradigmáticos da história do ensino e das artes, e a descrição e análise do exercício anteriormente realizada, o exercício enquadra-se no modelo formalista-cognitivo que combina uma estética formalista, na qual a arte é definida segundo aspectos estruturais e formais e as obras de arte como entidades organizadas, com uma visão cognitivista que concebe a aprendizagem como aquisição de estruturas cognitivas. A psicologia de gestalt é um dos pilares teóricos do exercício, corresponde ao estudo da percepção visual, da psicologia da forma, que integra a psicologia cognitiva, relacionada por Rudolph Arnheim com o formalismo na arte. O exercício pretende que o aluno adquirira capacidades perceptivas e de representação visual e, simultaneamente, os conceitos e vocabulários a estes associados, como por exemplo a noção de contorno, de sombra própria e sombra projectada, de textura, etc.. A avaliação faz-se em termos dos conceitos adquiridos e da sua adequada utilização.
A concepção formalista da arte envolve a noção de que arte tem um valor intrínseco procurando conhecê-la nas suas características e aspectos formais, entendidos isoladamente, sem relação com outros aspectos da actividade humana, acabando por se ruma forma, se entendida como única , restrita de entender a arte, como acontece com qualquer um dos modelos enunciados por Efland, pois a arte é das actividades humanas mais multifacetadas e polissémicas, envolvendo em si vários aspectos da actividade humana, quer sejam cognitivos, psicológico, sociais, políticos e económicos, não sendo por isso redutível a um modelo único de entendimento.
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BIBLIOGRAFIA:
EFLAND, Arthur, "Change in the Conceptions of Art Teaching", in NEPERUD, Ronald W. (ed.) -Context, content and community in Art education: beyond post modernism, New York: Teachers College Press, 1995, pp. 25-40.