Procuro escrever o registo de hoje...
Sobressai uma observação da professora, algo do género: "hoje é só experiências positivas!" Pois é, é esse também o espírito presente na aula, positivo, contrariando o clima nacional de desalento e indignação expresso na greve e manifestação do passado dia 22.
As experiências positivas no ensino, que trazemos connosco na nossa memória enquanto antigas alunas, que experienciamos directamente enquanto professoras/educadoras ou observamos nos outros, existem. É necessário conhece-las, partilha-las, analisa-las, "reflecti-las" (contagiando), reflectir sobre elas, para perceber o que nelas há de positivo, o que faz delas positivas e para quem?
As experiências positivas no ensino, que trazemos connosco na nossa memória enquanto antigas alunas, que experienciamos directamente enquanto professoras/educadoras ou observamos nos outros, existem. É necessário conhece-las, partilha-las, analisa-las, "reflecti-las" (contagiando), reflectir sobre elas, para perceber o que nelas há de positivo, o que faz delas positivas e para quem?
Sobressai a entrega profissional e pessoal de professores, a disponibilidade para os alunos, não limitada pelo toque que dita o fim da aula, pela sala de aula, pelos portões da escola. Esse "Ser" professora / professor, que é uma vocação, uma forma de estar na vida, com os outros, com o mundo, com nós próprios. Uma forma de estar, uma descoberta, partilhada, hoje, entre o grupo. O ir de encontro aos alunos, o percebê-los enquanto seres individuais, com interesses próprios com as suas vontades, com a sua visão do mundo em construção. dotados de autonomia, uma autonomia que só se conquista, constrói, num equilíbrio entre responsabilidade e liberdade. Subsiste um conflito interno, sobre a autoridade, os seu significado e necessidade, isto porque acompanha-me desde criança uma profunda repulsa relativamente à autoridade e à ideia de hierarquia subjacente. A representação do professor está e esteve ao longo dos tempos muito ligada a uma ideia de autoridade. Recordo as últimas aulas de Introdução à Prática Profissional, recordo as referências a "Vigiar e Punir" sobre a instrução, a disciplina, a ideia de ensino como correcção (?), modelação, domínio e constrangimento. Estas são questões fundamentais para mim para perceber e encontrar o sentido da educação e do papel do professor, que determinam a meu ver a postura perante ambas e perante a criança, jovem, ser humano. Recordo o professor Agostinho da Silva:
"De tal modo nos terá dominado o nosso sistema de educação que nunca mais criança alguma nascerá para ser livre na plena liberdade do mundo? Terá o feitiço tomado contra do feiticeiro e cada vez aperfeiçoaremos mais os nossos sistemas pedagógicos apenas para que cada vez maior a nossa eficiência na batalha da vida, ou na batalha em que transformamos a vida? Nenhum dos melhores acreditou jamais em que tal se desse; fé e esperança se têm unido para assegurar que para além de todas as violências, porventura necessárias para que o grupo humano se organizasse, o tempo virá de caridade, entendendo-se caridade não como aquele suplemento de humilhação que se leva aos que caíram na luta, mas como o amor irrestrito que, embora consciente dos defeitos do amado, o ama sem pensar em saldo positivo ou negativo."
"De tal modo nos terá dominado o nosso sistema de educação que nunca mais criança alguma nascerá para ser livre na plena liberdade do mundo? Terá o feitiço tomado contra do feiticeiro e cada vez aperfeiçoaremos mais os nossos sistemas pedagógicos apenas para que cada vez maior a nossa eficiência na batalha da vida, ou na batalha em que transformamos a vida? Nenhum dos melhores acreditou jamais em que tal se desse; fé e esperança se têm unido para assegurar que para além de todas as violências, porventura necessárias para que o grupo humano se organizasse, o tempo virá de caridade, entendendo-se caridade não como aquele suplemento de humilhação que se leva aos que caíram na luta, mas como o amor irrestrito que, embora consciente dos defeitos do amado, o ama sem pensar em saldo positivo ou negativo."
In, “Educação de Portugal” (texto escrito em 1970), publicado em Textos Pedagógicos, Vol.II, Âncora editora, Lisboa, 2000.
Não poucas vezes me surgiu, sem que o desejasse, a analogia entre escola e prisão. Exagero da minha parte? Talvez, mas interessa perceber em que termos surge essa relação, sentida quando criança e por vezes, em algumas situações, como adulta em certos contextos escolares.