sábado, 14 de abril de 2012

fragmentação de imagem, composição e construção narrativa


Exercício realizado no âmbito da disciplina de Comunicação Visual do 1º ano da licenciatura em Artes Plásticas - Escultura (1997/ 1998). 

No presente exercício cada aluno tinha de escolher uma fotografia que achasse interessante e isolando pormenores dessa imagem e integrando palavras conceber uma pequena narrativa. 

O exercício surge na sequência de outros exercícios nos quais era também posto em prática um processo de fragmentação da imagem transformando-a em várias imagens. Um processo que se aproxima do processo de representação da realidade, quer seja através de processos mecânicos como a fotografia ou de processos mais manuais como o desenho, no que diz respeito à selecção e enquadramento no olhar. Os exercício sucediam-se de forma progressiva: no 1º era pedido apenas que se isolasse um pormenor da imagem, no segundo vários pormenores pedindo-se depois que esses pormenores fossem alinhados segundo uma sequência, correspondendo o terceiro ao exercício aqui relatado. Esta sequência de exercícios culminava com um trabalho mais elaborado no qual os alunos teriam de produzir fotografias e construir uma narrativa gráfica recorrendo também a texto. 

No que diz respeito às competências, julgo que o exercício pretendia desenvolver nos alunos noções de composição, enquadramento e selecção  de uma imagem procurando-se aliar os aspectos formais aos  conteúdos e significados possíveis da imagem e suas possíveis transformações consequentes da sua manipulação. Pretendeu-se também desenvolver de forma gradual a sensibilidade dos alunos em relação às potencialidades comunicativas e narrativas das imagens promovendo-se assim o desenvolvimento nos alunos da capacidade de comunicarem visualmente.  

Recordo-me que este exercício agradou-me muito porque ia de encontro a interesses que eu já tinha: a fotografia e a narrativa gráfica, permitindo-me por isso desenvolver e explorar esses interesses e capacidades.  

Para este exercício escolhi uma fotografia de Man Ray pertencente à serie Erotique Voilée (1933) onde surge retrada Méret Oppenheim, artista associada ao grupo dos surrealistas e  modelo de Man Ray em muitos dos seus trabalhos fotográficos.
Era uma altura de mudanças, separações, transformações e descobertas e o erotismo começava a ganhar espaço em vários aspectos da minha vida, aliado a personalidades artísticas que iam compondo o meu universo de referências  artísticas e intelectuais, personalidades relacionadas com o grupo dos surrealistas e dadaistas: Giorgio de Chirico, René Magritte, Marx Ernest, Hannah Höch, Claude Cahun, Raoul Hausmann, John Heartfield, Kurt Schwitters, etc. Descobria escritores como Henry Miller e Anais Nin, pensadores como George Bataille ou Lou Andreas-Salomé.


Passava mais tempo sozinha, um contraste forte e difícil de superar em relação ao que fora toda a minha vida anterior com a presença constante da minha irmã. Recordo vagamente o momento em que fiz este trabalho. É para mim ainda um mistério a forma como surgiu, como foram aliados texto e imagem, como a relação entre ambos surgiu quase em simultâneo uma apelando ao outro reciprocamente. Recordo uma certa perplexidade perante o resultado. Recordo de o mostrar a uma colega com quem conversava muito na altura, recordo o espanto, mas isto é poesia, exclamava. Recordo o momento de avaliação com o professor, algo distante sentia eu na altura, recordo o silêncio, recordo apenas um comentário, não deve estar a gostar muito de estar aqui, recordo a perplexidade minha perante o comentário. 






Trabalho realizado:












Enquanto pessoa que pretende ser educadora julgo que é importante que se fale dos trabalhos dos alunos e de trabalhos de outros artistas de várias épocas  e correntes ou linguagens (o que em relação a estes últimos acontecia muito nas aulas de comunicação visual, mas dos trabalhos dos alunos, infelizmente,  não) pois é importante que os alunos desenvolvam capacidades de análise sobre o que fazem, eles próprios e os colegas, tanto a nível do resultado como a nível dos processos que conduzem a estes. Numa abordagem que envolva de forma equilibrada os vários aspectos ou dimensões dos trabalhos, não valorizando umas em detrimento de outras. Recordo que falava mais com alguns colegas e fora das aulas desse aspectos do que propriamente num contexto de aula. Julgo que essa partilha deveria acontecer nas aulas, que os professores são importantes fontes de conhecimentos e referências que podem ajudar os alunos nas suas descobertas. Penso que um professor, sendo mais experiente, maturo e possuindo um conhecimento mais vasto pode ter um papel importantíssimo na formação artística dos alunos ajudando-os a perspectivar-se a si próprio e o que fazem. Para que tal aconteça é fundamental que o professor conheça o aluno e estabeleça com este uma relação de respeito e confiança, que dialogue com os alunos e que proporcione, em aula, o diálogo entre estes. 


ENQUADRAMENTO TEÓRICO

O presente exercício enquadrar-se num entendimento da educação artística e da própria arte, e áreas relacionadas com a comunicação visual (por exemplo o design gráfico e a ilustração) que parte assumidamente da relação entre os aspectos formais, presentes na noção de composição e enquadramento, e aspectos relacionados com os significados, quer ao nível da interpretação quer ao nível da produção de sentidos, presentes de forma mais obvia na relação que se procura entre texto e imagem e na sequência narrativa. É uma abordagem que procura integrar aspectos formais e cognitivos, pragmáticos e funcionais, de expressão e comunicação individual.  Neste sentido julgo que o exercício enquadra-se no modelo reformista que María Acaso (Acaso, 2009) enuncia como sendo um modelo que propõe a reforma do ensino artístico partindo dos modelos anteriormente estabelecidos, são eles, segundo a definição de Efland (Efland, 1995, pp. 25-40), os modelos mimético-behavorista, expressivo-psicoanalítico, social-reconstrucionista e formalista-cognitivo. O modelo reformista insere-se numa abordagem "pós-modernista" da educação artística que defende que o único modelo válido é aquele que integre vários modelos e abordagens não privilegiando um único modelo como válido. A própria organização curricular da disciplina de Comunicação Visual vai de encontro a uma abordagem múltipla englobando aulas de carácter prático, nas quais foi proposto o exercício em análise, e aulas teóricas que abordavam vários aspectos da arte moderna e contemporânea, históricos, sociais e estéticos.    

_________________________________________________________________

BIBLIOGRAFIA:


ACASO, María; La Educacón Artística no son Manualidades, Nuevas Práticas en la Ensenanza de las Artes y la Cultura Visual; ed. Los Libros de La Catarata; Madrid; 2009.

EFLAND, Arthur; "Change in the Conceptions of Art Teaching", in NEPERUD, Ronald W. (ed.) -Context, content and community in Art education: beyond post modernism; New York: Teachers College Press; 1995; pp. 25-40.







Sem comentários:

Enviar um comentário